História do Brasil
Nível fundametal
Paródia (1926)
Aparício Torelly, o Barão de Itararé
Ora! - direis - ouvir panelas! Certoficaste louco... E eu vos direi, no entanto,que muitas vezes paro, boquiaberto,para escutá-los pálido de espanto.
Direis agora: - Meu louco amigo,Que poderão dizer umas panelas?O que é que dizem quando estão contigoE que sentido têm as frases delas?E direi mais: - Isso quanto ao sentido,Só quem tem fome pode ter ouvidoCapaz de ouvir e entender panelas.
Lenda kaiapó
Objetivos
1) Tomar contato com a mitologia indígena brasileira;
2) Compreender as condições materiais e culturais que permitiram o surgimento dos mitos indígenas brasileiros;
3) Relativizar os componentes fantásticos dos mitos a partir do conhecimento das condições materiais dos povos que os produziram.
Ponto de Partida
1) Ler os itens "Julgamento da história" e "Brancos e índios hoje", do artigo Índios do Brasil do site Educação;
2) Ler a lenda kaiapó "Da origem dos nomes Bekwe e Betuk-ti":
“Tabujo de Wayangá, o Pajé, queimou no fogo. Queimou o pé. O Tabujo chorou muito. Wayangá foi lá. Ele perguntou:- Por que i-Tabujo está chorando?Na casa da irmã tinha um grande berarubu, bolo de carne de mandioca. Wayangá falou para a irmã:- Abre berarubu, eu quero deitar em cima.A irmã abriu o berarubu. O Wayangá disse:- Vou deitar, deitar de um lado e depois do outro.Queimando, correu para o rio e caiu na água. Outro irmão falou:- Não morreu, não. A água é funda, ele ficou com os peixes.Ali, no fundo do rio, Wayangá viu os peixes dançando. Dançando para dar nome de Bekwe à piranha, à bicuda e ao cará. Wayangá demorou muito. Três invernos e três verões. Depois voltou. Wayangá que tinha queimado estava chegando. Chegou. A irmã estava chorando porque o Wayangá estava chegando. O cabelo estava comprido. O corpo estava pintado. Tinha muito peixe no cabelo. Wayangá foi dançar na praça, sozinho. Os outros não conheciam esta dança. Ele tinha aprendido com os peixes. Wayangá chegou na casa da irmã e disse:- A minha Tabujo vai chamar Bekwe-bô, e se é homem, Betuk-ti.”
Extraído de Vidal, Lux. "Morte e Vida de uma Sociedade Indígena Brasileira". São Paulo, Hucitec, 1977, p.221.
Glossário
1) Tabujo: "termo de parentesco que indica o filho da irmã. O mesmo termo designa o filho do filho e o filho da filha de quem fala. É um termo que compreende, numa só categoria, o que para nós são netos e sobrinhos. I-Tabujo: meu sobrinho".
2) Wayangá: "xamã, pajé. Tem o poder de ver e entrar em contato com o sobrenatural e de viajar através dos vários domínios cósmicos, de onde traz para a vida social conhecimentos, ornamentos e itens culturais (ritos, cantos, nomes, etc.). Este mito refere-se às práticas sociais da outorga e transmissão dos nomes Xikrin. O avô e o tio materno são os nominadores, por excelência, dos meninos."
3) Berarubu: "carne, ou bolos de carne e mandioca, assados em fornos de pedras. Berarubu é, também, em todo o interior paraense e amazonense, o nome dado a esse tipo de forno e aos alimentos que nele se cozinham."
Aracy Lopes da Silva. Mito, razão, História e Sociedade: inter-relações nos universos sócio-culturais indígenas in Silva, A. L. e Gruppioni, L. D. B. "A Temática Indígena na Sala de Aula". São Paulo/Brasília, Edusp/Global, 2000, p.328.
Justificativa
Ao utilizar narrativas mitológicas em sala de aula, costumamos destacar o componente fantástico que elas apresentam. Os alunos se interessam, reproduzem-nas em peças teatrais, redigem outras histórias a partir do mito do herói ou constroem belas histórias em quadrinhos sobre elas. No entanto, especialmente quando tratamos a respeito da mitologia indígena, com uma simbologia toda especial e parcamente estudada, é preciso acautelar-se diante de generalizações apressadas.
As narrativas mitológicas dos indígenas brasileiros são riquíssimas em imagens e personagens considerados "fantásticos", chamam a atenção para a simplicidade e delicadeza do desenrolar da história, mas que, por não fazerem parte do repertório intelectual infantil (ou mesmo adulto), suscitam incompreensões e prejulgamentos. A saída é buscar a riqueza e profundidade do mito aproximando-o à cultura de cada grupo social indígena que o produziu.
Estratégias
Momento 11) Selecionar um aluno voluntário. Vendá-lo e esquentar seu pé (sugere-se esquentar uma faca com isqueiro e aproximar do pé do aluno);
2) Solicitar que o aluno estabeleça uma correspondência da sua sensação com uma cor;
3) Selecionar um segundo aluno voluntário. Vendá-lo e mergulhar seu braço num balde d'água;
4) Solicitar que o aluno estabeleça uma correspondência da sua sensação com uma cor;
5) Realizar um jogo da forca, para que os alunos adivinhem as seguintes palavras: Bekwe-bô, Betuk-ti e Berarubu;
6) Solicitar que os alunos realizem uma representação gráfica de um peixe;
7) Ler a lenda kaiapó "Da origem dos nomes Bekwe e Betuk-ti". Explorar a sonoridade própria e ritmo peculiar das frases. Explorar a dificuldade dos alunos em entender a narrativa;
8) Recontar a história, de modo a fazê-los compreender os diferentes momentos da narrativa;
9) Solicitar que os alunos montem uma dramatização muda da lenda, utilizando as cores sugeridas ao longo da aula, mímica e figurino.
Momento 21) Discussão com os alunos a respeito da simbologia da lenda. (Exatamente por se tratar de uma lenda que fala sobre o "batismo" do Tabujo, a lenda Xikrin é uma história de renascimento e regeneração. O Wayangá é o mais velho e sábio da família de Tabujo e por isso tem a tarefa de dar-lhe um nome. O berarubu (forno) é o seio materno de onde saiu Tabujo escaldado, e por onde Wayangá passa para celebrar sua união com Tabujo.
O mergulho nas profundezas do rio é uma forma de se purificar e adquirir sabedoria, para nomear corretamente o Tabujo. A conversa com os peixes nas profundezas é reveladora. Assim, Wayangá retorna à superfície acompanhado pelos peixes em seu cabelo, que lhe revelaram possíveis nomes para Tabujo - Bekwe-bô se for mulher, e Betuk-ti se for homem);
2) Realizar pesquisa sobre os Xikrin, no site Socioambiental. Esta etapa pode ser feita pelos próprios alunos em pesquisa preliminar ou uma apresentação montada pelo professor;
3) Discutir com os alunos o conceito de tronco lingüístico;
4) Visualizar o forno (berarubu) em que as Xikrin preparam os alimentos; visualizar a preparação dos Xikrin antes dos rituais;
5) Destacar para os alunos a importância das relações de parentesco entre os Xikrin, a preparação do ritual de batismo, o papel dos homens e das mulheres na preparação da festa, o sentido dos nomes e do batizado;
6) Associar a construção da lenda ao dia-a-dia dos Xikrin;
7) Sugere-se como avaliação do Momento 2 que os alunos criem, eles próprios, um mito com elementos do seu dia-a-dia.
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